quarta-feira, 10 de junho de 2009

Tudo Junto & Misturado - O céu e o inferno de Victor & Leo

Eles ofuscaram Alanis Morrisete no Festival de Verão de Salvador deste ano. Foram uma das atrações mais aguardadas nos palcos do Planeta Atlântida, festival tradicionalmente de pop rock. São campeões absolutos no site de cifras Vagalume com mais de dois milhões de acessos por mês. Com apenas um par de discos em estúdio e mais um par ao vivo, possuem mais de uma dúzia de hits que bombam no país inteiro. Agora, com CD e DVD em espanhol, estão prestes a conquistar o resto da América Latina. Estamos falando de Victor & Leo, o grande fenômeno pop brasileiro de 2009.

A ascensão fulminante da dupla nos últimos anos coincide com a consolidação do que é chamado de Sertanejo Universitário. Formado por nomes como Hugo Pena & Gabriel, Fernando & Sorocaba, César Menotti & Fabiano, João Bosco & Vinicius, dentre vários outros, o movimento praticamente enterra o preconceito que a música sertaneja moderna sofria quando carregava o rótulo pejorativo de breganejo.

O Sertanejo Universitário, no entanto, é um rótulo vazio, sendo apenas um balaio inventado pela mídia para abrigar uma ampla variedade de gatos. Tanto que Victor afirma constantemente que não se considera parte do movimento, pois o que eles fazem estaria muito mais próximo de um folk pop romântico. O próprio Victor às vezes se atrapalha na hora de definir seu som - numa entrevista, chegou a dizer que tocava folk intuitivo. O que diabos isso significa é algo que extrapola a imaginação humana. Mas ele não está errado, deixe ele compor. E que os outros inventem os rótulos.



E compor é sua especialidade. Diferentemente da grande maioria das duplas, o repertório dos dois é extremamente autoral. Victor é um compositor da melhor estirpe, sublimando a influência de vários gêneros além do sertanejo de raiz, como a MPB, o pop, o rock e até musica internacional.

O sucesso da dupla foi tão grande e repentino que compará-los ao RPM não seria nenhum absurdo, principalmente se levarmos em consideração que foram apenas dois discos em estúdio. Realmente, a pinta de galã de Victor lembra muito o Paulo Ricardo em seus tempos áureos. Claro que a comparação é apenas superficial e não se estende à vida promíscua da banda de tecnopop dos anos 80. Victor & Leo são bons rapazes.

Por outro lado, se o RPM foi projetado para dar certo, os irmãos Chaves foram lapidando seu som nos bares de Belo Horizonte durante longos sete anos, cinco dos quais gastos estudando canto, para somente bem depois serem descobertos pelo casal Silvinha e Eduardo Araújo.

Só que nem tudo são flores no rancho dos rapazes. O seu sucesso está se confrontando com a primeira geração de fãs digitais surgidos na última década e sua assessoria não está tendo tato o suficiente para lidar com isso. Se antes os fãs se comunicavam pelo correio e se satisfaziam em estar perto de seus ídolos nos shows e conseguir uma foto com eles era como ganhar na loteira, hoje eles não se contentam com isso. Eles são engajados e querem participar ativamente da carreira dos artistas.

Em muitos casos os fãs podem até alavancar carreiras, como foi o caso do Fantasmão que, com a quantidade absurda de comunidades simpatizantes, chamou a atenção da grande mídia. Ou o caso do Blog do Muído, que foi crucial para a divulgação da banda no Norte e Nordeste. E pasmem! A assessoria de imprensa da banda criou outro blog, se dizendo oficial e de qualidade bem inferior, só para ter controle total sobre o que é publicado na web.

O que as assessorias de imprensa precisam entender é que este controle total só era viável no século passado, quando a internet não era o que é hoje. Muito mais inteligente do que tentar um controle impossível, seria integrar o trabalho dos fãs ao trabalho da banda. Tentar bater de frente com as redes sociais dos fãs, além de ser uma guerra perdida de antemão, pode trazer prejuízos de imagem, pois além de enaltecer os méritos de seus ídolos, os fãs também podem apontar suas fraquezas.



No caso específico de Victor & Leo, os problemas começaram a aparecer no segundo semestre do ano passado, coincidentemente quando a Sony resolveu investir na carreira internacional deles. O acesso aos camarins era controlado por meio da distribuição de pulseiras, que eram divididas entre o contratante - que geralmente as distribui a políticos, empresários e patrocinadores - e fãs comuns. Por algum motivo desconhecido, isto parou de ser feito e agora só os contratantes desfrutam do privilégio.

A situação chegou a patamares absurdos na turnê mais recente pelo Nordeste. Na Paraíba, por exemplo, o único fã clube do Estado não teve acesso à dupla nem conseguiram descobrir o hotel onde estavam hospedados. E segundo vários depoimentos, foram destratados pela produção. Considerando-se o fato de que eles levam meses para se apresentar na região, tamanho descaso não tem justificativa. Procurada pela coluna, a produção não se manifestou.

Outro caso digno de nota foi o do site de um fã clube que preferiu não se identificar. Ao conquistar a marca de um milhão de acessos, passou a ser patrocinado pela produção da dupla. No entanto, no dia em que foi publicada uma matéria crítica sobre os eventos que aconteceram em um show, seus autores foram sumariamente expulsos. A maior comunidade de Victor & Leo no Orkut, cuja dona é intimamente ligada a assessoria oficial, também não tolera qualquer crítica. Se a situação chegou ao ponto de membros serem expulsos e esses dissidentes criarem uma comunidade que ultrapassa os 4.000 membros e um blog (um dos melhores sobre o assunto na blogosfera) é que porque de onde vem essa fumaça, tem fogo.

Sorte que todos esses problemas não estão influenciando a música, que afinal de contas, é a única coisa que importa. Não quero com essas denúncias insinuar que os artistas tenham qualquer relação com isso. É o despreparo da produção e a ganância da multinacional Sony Music que deve ser salientado. Porque para uma dupla que se fez de uma maneira independente, ter sua imagem maculada junto aos fãs por trapalhadas administrativas de uma gravadora eminentemente falida é inadmissível.

Se o dinheiro da Sony não serve para a criação de uma equipe de atendimento aos fãs, esse dinheiro não serve para nada. Victor costuma dizer que acredita na intenção e na energia que imprime no trabalho e que o sucesso nada mais é do que a conseqüência disso. Se é assim, meu amigo, bote os caras pra trabalhar e aparar essas arestas que tanto ferem os corações de suas fadas e borboletas espalhadas pelo país!

Fonte:Mtv Home

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